Estreando a coluna Visão do Parceiro, a cada três meses convidamos especialistas do mercado para compartilhar suas leituras sobre o cenário econômico no Brasil e no mundo. Nesta primeira edição, José Carvalho, head do Departamento Econômico e Data Science da Vinci Compass, traz uma análise clara e direta sobre os principais movimentos do segundo trimestre de 2025, com foco em Estados Unidos, China e Brasil.
Estados Unidos: Menos força na economia, mas inflação controlada
No segundo trimestre de 2025, os EUA viveram uma fase de desaceleração da economia com inflação estável. O crescimento foi afetado por tarifas de importação mais altas, o que lembrou choques de oferta do passado. O PIB caiu 0,5% no 1º tri e o consumo perdeu força. Apesar das tarifas ainda não aparecerem totalmente nos índices de preços, a inflação nos serviços e nos aluguéis cedeu, salários subiram menos e o mercado de trabalho ficou mais equilibrado. O Fed adotou postura cautelosa. Parte dos membros ainda via risco inflacionário, mas outros já notavam perda de ritmo na economia. O mercado começou a prever cortes de juros no segundo semestre, caso o mercado de trabalho enfraqueça mais.
China: Excesso de produção e risco de deflação
A China sentiu o baque das tarifas dos EUA, com impacto direto nas exportações. Em vez de estimular o consumo das famílias, o governo apostou no investimento, o que piorou o desequilíbrio entre oferta e demanda. O país ficou com capacidade produtiva ociosa, exportou esse excedente (sobretudo carros elétricos) e aumentou o risco de deflação global. A inflação ao produtor ficou negativa e o consumo interno fraco. O setor imobiliário segue em crise, sem solução clara, afetando bancos e governos locais. O crescimento ficou entre 4% e 4,5%, mas com sinais de fragilidade estrutural. A economia chinesa seguiu crescendo, mas com menor efeito sobre o resto do mundo e de forma cada vez mais artificial.
Brasil: Agro forte, ajuste fiscal e oportunidade
O Brasil teve bons resultados no 2º tri, com ajuda do agro. A safra recorde de soja impulsionou o PIB e amenizou o impacto da taxa de juros ainda alta (real em 10%). O governo ensaiou um ajuste fiscal após forte gasto em 2024. O déficit primário saiu de -2,5% do PIB para um pequeno superávit em maio. Apesar de transitório, isso ajudou a aliviar a pressão sobre o Banco Central.
A inflação caiu: a implícita para 12 meses foi de quase 8% em janeiro para cerca de 4% em junho. O IPCA deve fechar 2025 em 4,7%. A projeção do BC para 2027 já se aproxima da meta de 3%. Com isso, o mercado passou a ver chance de cortes nos juros no fim de 2025 ou começo de 2026.
Na política, a aprovação do governo caiu, e a rejeição superou 45%. Nomes da oposição ganharam força, especialmente entre eleitores de centro. Isso gerou um clima parecido com o da Argentina em 2023, e os mercados passaram a precificar a possível troca de governo. A bolsa brasileira se beneficiou de juros futuros menores, inflação sob controle e uma política fiscal mais moderada, abrindo uma janela de oportunidade para o país entre os emergentes — desde que mantenha disciplina fiscal e estabilidade institucional.