Flavia Nazaré é formada em Administração, com mestrado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e pós-graduação em Economia do Setor Financeiro. Saiba mais aqui .
A diretora de Investimentos da Prevcom, Flavia Nazaré, traça o panorama de como os mercados se comportaram em setembro.
Juros
Em setembro, os investidores incrementaram a atenção com a inflação global, além da local, e as implicações nas reações da política monetária dos países desenvolvidos e seus impactos na economia local. Na última reunião do COPOM (22/09), o Banco Central elevou a taxa básica de juros Selic em +1% a.a. para +6,25% a.a., sinalizando que está considerando uma inflação projetada acima do cenário base, levando o mercado a projetar a Selic em 8,25% no fim de 2021.
A melhora da atividade econômica (o IBC-Br, indicador mensal do PIB divulgado pelo Banco Central, veio acima do esperado em julho, registrando crescimento de 0,6%, ante expectativa do mercado de 0,3%), a criação de novos empregos em agosto (+372,3 mil) e a vacinação com grande adesão não contiveram a estrutura a termo de taxa de juros, negociada na BM&F. Ela fechou o mês elevada em todos os prazos, mostrando que os investidores preveem novas altas.
O CDI, teve rentabilidade de 0,44% no mês e acumulado de 2,99% a.a. em 12 meses. A poupança nova, por sua vez, apresentou ganho de 0,30%, acumulando 2,02% a.a. em 12 meses. O IPCA (inflação) ficou em 1,23% no mês, acumulando alta de 10,32% a.a. em 12 meses, causando juros reais negativos de -6,64% a.a. nos últimos 12 meses.
Câmbio
A taxa de câmbio tem sido contaminada com a elevação das taxas de juros no mercado futuro local devido à alta da inflação e a algumas turbulências na política local, com tensões entre executivo e judiciário. Além disso, o cenário de aversão ao risco se confirmou com queda na projeção de crescimento das economias mais desenvolvidas. EUA o Reino Unido elevaram suas projeções de inflação, causando estresse no mercado. Além disso, a crise energética, que se agravou na Europa e na Ásia, ajudou a valorizar o dólar ante às outras moedas. Pela cotação do Banco Central (Ptax 800), o dólar teve alta de 5,76% no mês, cotado a R$ 5,4394. Já o euro, subiu 3,77%, cotado a R$ 6,2983.
Bolsa
A redução das projeções de crescimento do PIB de diversas economias para 2021, o aumento das projeções da inflação no Brasil e instabilidades políticas ajudaram a derrubar o mercado acionário local.
Além disso, a crise em uma empresa do setor imobiliário na China agregou mais risco para a renda variável local, antecipando uma desaceleração da economia chinesa e, consequentemente, a demanda por produtos das empresas brasileiras que exportam para a China (apesar de não ter tido ainda maiores consequências na economia por lá).
A expectativa do tapering pelo Banco Central dos EUA ajuda também a conter a valorização das ações globais e locais, que respondem melhor à retomada da economia local com o progresso da vacinação. Nem mesmo dados divulgados no âmbito fiscal referentes a arrecadação federal de impostos para agosto de 2021 (+R$ 146 bilhões), com crescimento real de 7,25% em relação a agosto de 2020, e a diminuição da despesa total do governo central em R$70,5 bilhões em agosto contra agosto do ano passado, animaram os investidores com relação a condução do teto de gastos.
O Ibovespa terminou o mês com baixa de -6,57%, aos 110.979 pontos (menor queda desde março/2020), quando o índice despencou 29,9% no auge do crash do coronavírus, e acumula queda de -6,75% no ano, com valorização de 17,31% nos últimos 12 meses.
Em resumo:
O cenário de aversão ao risco global afetou o mercado como um todo. Este ambiente de inflação persistente, o menor crescimento e a expectativa de redução dos estímulos monetários globais levaram ao aumento dos retornos dos títulos americanos e a uma forte realização dos mercados acionários internacionais.
No Brasil, além do cenário externo, o mercado agravou a situação ao antecipar nos preços a incerteza com as reformas e impactos de uma desaceleração na economia chinesa. Isso gerou em setembro uma queda ainda mais forte no Ibovespa, elevação dos juros no mercado futuro e, consequentemente, à marcação a mercado negativa dos títulos de renda fixa.
Continuaremos acompanhando:
I. Impacto das medidas que os governos globais adotarão para conter a inflação;
II. Condução da política monetária (juros versus inflação) e fiscal (teto de gastos) local;
III. Índices de como tem se recuperado a atividade econômica;
IV. Andamento das reformas estruturantes (auxílio Brasil, PEC dos Precatórios e reforma do Imposto de Renda);
V. Estabilidade política local;
VI. Na Ásia, Lockdowns racionamento de energia e os preços (de petróleo e gás natural);
VII. Desenrolar do caso Evergrande e seus impactos na demanda por produtos brasileiros.