Flavia Nazaré é formada em Administração, com mestrado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e pós-graduação em Economia do Setor Financeiro. Saiba mais aqui.
A diretora de Investimentos da Prevcom, Flavia Nazaré, traça o panorama de como os mercados se comportaram em março.
Bolsa
O Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, avançou 6% em março, fechando em 116.633 pontos, o primeiro mês de alta em 2021. No ano, o recuo é de 2,00%. No exterior, o S&P 500 valorizou 4,2% e o MSCI World, 3,1%. Assim como observamos nos EUA, tivemos no mercado local um “movimento de rotação”, ilustrado pela valorização das ações de empresas dos setores de shopping, commodities e bancário e a desvalorização nas cotações das empresas do setor de consumo e tecnologia. Este evento ocorreu na contramão do lockdown e do auge da segunda onda de Covid-19 no Brasil, corroborando a tese de que o mercado sempre se antecipa e está, neste caso, bem mais otimista com a vacinação e a reabertura dos mercados, apesar do grande número de mortes.
Juros
Com o aumento da taxa de juros um pouco mais forte do que o esperado, somado ao estresse ainda relacionado ao cenário fiscal, o setor público consolidado registrou déficit primário de R$ 11,8 bilhões. Com cerca de três mil mortes por dia por causa da pandemia, os preços dos títulos públicos sofreram, os indexados à inflação (NTN-B ou Tesouro IPCA) rentabilizaram em média -0,46% e os títulos públicos prefixados (LTN, NTN-F ou Tesouro Prefixado) rentabilizaram -0,84%. Já os títulos públicos pós-fixados (LFT ou Tesouro SELIC), rentabilizaram 0,17%, abaixo do ativo livre de risco, representado pelo CDI, que valorizou 0,20%.
Os vértices mais longos da curva de juros tiveram alta com a piora do risco fiscal e já começam a precificar uma Selic próxima a 9% em alguns anos, gerando prejuízos para quem estava apostando na estabilidade ou queda dos juros longos. O BC sinalizou com o aumento da Selic em 0,75%, um ritmo mais rápido de aumento nas taxas de juros que é particularmente benéfico para uma classe de ativos, a renda fixa pós-fixada. Assim, houve maior procura pelos ativos de crédito privado e os fundos de renda fixa crédito privado com alocações majoritárias em ativos indexados ao CDI, causando um choque de demanda nesse mercado. O retorno do CDI no mês foi de 0,19% e no ano, 0,47%.
Câmbio
O real se desvalorizou 0,41% em março e 8,48% no ano, mesmo com os leilões extras realizados pelo Banco Central, e fechou o mês com o real cotado a R$ 5,62. O mercado de câmbio tem mantido o foco no cenário externo e a expectativa para a economia americana. Entretanto, o estresse político interno, com as incertezas quanto ao orçamento e ao possível veto de Bolsonaro, acabou pesando sobre o real, estimulando o aumento do risco Brasil do ponto de vista dos investidores.
Em Resumo:
Definitivamente mês de surpresas para testarmos nossos conhecimentos e nervos no fechamento de um trimestre extremamente difícil.
O cenário ultramovimentado contou com os seguintes eventos:
_ Anulação das condenações de Lula no âmbito da Lava Jato pelo Ministro Edson Fachin, do STF, culminando em uma polarização entre Bolsonaro e Lula, no valor dos ativos..
_ Aprovação pelo congresso da PEC Emergencial, dando continuidade aos pagamentos do auxílio emergencial, mas gerando gatilhos fiscais, que podem ser fundamentais para a condução da dívida pública brasileira.
_ Aumento da taxa básica de juros, a taxa SELIC, pelo Banco Central em 0,75 ponto percentual, agora em 2,75%, prometendo elevar pelo menos mais 0,75 na próxima reunião, com o mercado financeiro agora esperando taxa Selic em 5% no final de 2021.
_ Aprovação do orçamento público federal para 2021 totalmente fora do que vinha apresentando nas últimas votações, reduzindo em mais de R$ 26 bilhões o orçamento para despesas obrigatórias, pagamento de aposentadoria e seguro-desemprego, inclusive direcionando o recurso para emendas parlamentares, o que poderia acarretar em crime de responsabilidade fiscal para Bolsonaro, caso este sancione o texto.
_ Covid-19: Vacinação em massa nos EUA e ao mesmo tempo recordes de mortes no Brasil, com 3.158 óbitos em 24 horas, pronunciamento em rede nacional do presidente Bolsonaro a fim de tranquilizar o povo brasileiro no mesmo mês da divulgação da redução de vacinas no Brasil, tornando o ambiente, do ponto de vista da pandemia, caótico.
Seguiremos atentos em abril, monitorando:
1. Comportamento de inflação IPCA-15, IGP-M e IPC;
2. Preços dos combustíveis e das commodities de um modo geral, o que interfere diretamente no valor das ações e do IBOVESPA.
3. Calendário de privatizações;
4. Inflação e juros dos Treasuries americanos;
5. A Covid-19: calendário de vacinação no mundo e a capacidade do Brasil em reduzir a situação caótica provocada pela segunda onda e evoluir com a vacinação de acordo com os dados divulgados pelo Ministério da Saúde. Velocidade na vacinação pode salvar pessoas e a economia.
6. Copom subirá novamente a taxa em abril?
7. A inesperada correlação positiva que ocorreu no mês entre desvalorização do real e alta da Bolsa.